O desaparecimento das espécies vegetais...
Mudança nos hábitos de consumo é outro fator importante que
contribui para a disseminação da fome, aumento do número de doentes e
desaparecimento de algumas espécies.
O que se percebe é que, ao disseminarmos novos hábitos de
consumo alimentar, forçamos o abandono das culturas tradicionais, agindo erroneamente
ao introduzir novas plantas e métodos de plantio em larga escala, em regiões
não adaptáveis e em culturas que visam apenas a produção para subsistência. O espaço
cedido para a nova cultura requer novas técnicas de cultivo e tratos culturais
para que ocorra a adaptação.
Assim, quase que forçosamente, somos obrigados a seguir os
padrões vigentes, transformando nossos hábitos alimentares, mesmo que o preço a
pagar seja demasiadamente alto.
A transformação dos hábitos alimentares teve início especificamente
no caso do Brasil, pelo menos há cinco séculos, quando o colonizador teve
contato com nossas terras e sentiu que poderia obter lucros ao introduzir a
monocultura da cana-de-açúcar, do fumo, e do café. Drogas e alimentos, agora,
passam a ocupar o mesmo espaço.
Faltava apenas o incentivo de novos hábitos de consumo no
Ocidente e deter a tecnologia da produção do açúcar, por exemplo.
Era preciso monopolizar o mercado, para dar lugar a
cana-de-açúcar, Produto que precisava ser cultivado em larga escala na nova
terra, tanto para suprir o mercado externo quanto o mercado interno. Assim,
abrimos mão do mel, do açúcar de bordo e
da alfarroba.
Não existe uma terra sequer que não tenha sido atingida pelos
tentáculos do colonizador. Assim como na América, na África também irá ocorrer
o abandono das culturas tradicionais, como o plantio do trigo e dos tubérculos,
em prol da produção da mandioca e do óleo de coco. Para suprir as necessidades
proteicas, a carne de ovelha e a manteiga
atravessam fronteiras e saem da Austrália, Nova Zelândia,
Canadá e Argentina, ganhando o mundo. Culturas milenares são abandonadas e, segundo
historiadores, encontramos citações na literatura chinesa sobre a existência da
cultura do arroz há pelo menos cinco mil anos. No caso do milho, segundo a
Embrapa. Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária é difícil precisar, já que não existem documentos que possam
comprovar sua origem. Imaginem quantas espécies de milho e de arroz já
desapareceram sem que tivéssemos a oportunidade de conhecê-las.
Segundo Marcondes e Helene (1996), existe uma tradição na
Índia, na qual cada fazendeiro deve plantar pelo menos um canteiro com nove
espécies diferentes. É a chamada tradição dos nove grãos., que tem por
resultado prático fazer com que todo agricultor preserve ao menos uma parte do
banco genético que a natureza lhe forneceu. Esse é um procedimento exemplar da
agricultura tradicional, chamado intercultura. Outras práticas desse tipo
refletem um conhecimento íntimo das propriedades das plantas. É o conhecimento
acumulado, ao longo
de muitas gerações, pelo povo que habita uma determinada região.
Esse legado está sendo substituído velozmente pela agricultura moderna. Ainda,
segundo as autoras, na Indonésia, 1500 linhagens de arroz desapareceram nos
últimos 15 anos.
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