Para cada realidade um projeto

Não existe receita pronta em se tratando de projetos

Veja o passo a passo como desenvolver um projeto de educação ambiental na sua escola e porque não envolvendo a comunidade.
É muito comum dirigentes escolares vir a minha procura com o objetivo de obter um projeto de educação ambiental pronto para ser implantado em suas unidades.
A grande dificuldade é convencê-los que os projetos surgem a partir de necessidades que são comuns para a grande maioria.
Como descobrir estas necessidades? Através de pesquisas.

O grande desafio era articular os grupos para que todos pudessem participar de um objetivo comum a partir do conhecimento do espaço vivenciado.
Diante de tal desafio passamos a articular os grupos para que todos pudessem participar de um objetivo comum a partir do conhecimento do espaço vivenciado.
Diante desse desafio, passamos a nos organizar em grupos para discutir medidas que visassem a melhoria da qualidade de vida de cada um.
Decidimos que o ambiente de pesquisa e ação seria a escola e o próprio bairro, procurando sempre partir do micro para o macro, do local para o global, sair do abstrato para o concreto.
A partir de tal decisão seria preciso envolver professores das mais diversas áreas do conhecimento e toda administração escolar, pois se um diretor não assume que um projeto deva ter sua participação efetiva, temos cerca de 70% de chance de fracassar.
Coube ao professor de história o levantamento de dados do início da ocupação desordenada do solo na região. Foram elaborados roteiros para conseguir imagens, notícias de jornais e revistas e relatos de moradores antigos do bairro. Os alunos fariam essas pesquisas. 
Os professores de Geografia e Sociologia decidiram junto com o grupo quais seriam os dados a serem levantados para que tivéssemos um bom embasamento sobre a situação do bairro. Seria o antes e o depois. 
Os dados que deram origem as pesquisas foram: número de habitantes da região, local de origem, tipo de moradia, renda familiar, equipamentos eletroeletrônicos,destinação final do lixo, saneamento básico, etc.
O professor de educação física ficou como responsável pelos trajetos que deveriam ser percorridos com base em mapas elaborados pelo professor de geografia.Por quê educação física? Porque esse profissional conhece mais do que os outros a capacidade física de cada um para percorrer grandes distâncias. Assim poderíamos direcionar os grupos para sair a campo sem que corrêssemos o risco de enviar para áreas distantes grupos de baixa aptidão física.
Professor de matemática ensinaria os alunos a montar gráficos de acordo com os dados coletados. 
Feito esse trabalho surgiram os problemas que era exatamente onde queríamos chegar.

  • Maior parte da população era migrante que perderam suas terras pelos mais diversos problemas e foram obrigados a migrar para São Paulo em busca de uma vida melhor.
  • Cerca de 60% moravam em áreas de risco devido ao baixo valor dos terrenos. Esses foram vítimas de aproveitadores, pois venderam áreas de mananciais que não poderiam ser habitadas.
  • O esgoto era direcionado diretamente para o córrego comprometendo a saúde da pulação e a qualidade da água do reservatório do Guarapiranga.
  • Tinham aparelhos de última geração em barracos que mau podiam ser sustentados sobre as vigas. Foram tantos dados que dariam para trabalhar durante os quatro anos de formação dos alunos fazendo um link com os conteúdos programáticos.
  • Apareceram gravidez precoce, mães solteiras, drogas,falta de higiene pessoal,doenças de veiculação hídrica, etc.
A partir de tais dados os projetos foram elaborados e aplicados na escola, pois essa era a melhor forma de conscientizar os alunos e indiretamente os pais.
Os projetos foram ordenadas na sequência abaixo.

  1. Gincana do lixo
  2. Compra de ferramentas para horticultura
  3. Coleta de sementes para reflorestamento
  4. Coleta e análise da água da represa com apoio do Dr. José Galizia Tundisi (UFSCar)
  5. Reeducação alimentar
  6. Ervas medicinais
  7. Palestras sobre gravidez, DST, Dengue, etc.
  8. Com o dinheiro arrecadado com o lixo iniciamos a horta. As hortaliças eram consumidas pelos alunos e a sobra era vendida para professores para arrecadar fundos. Passaram a aprender a reaproveitar cascas, talos, e sobras de maneira geral.   
    Montamos uma horta de ervas medicinais onde ensinamos os alunos todo o processo desde o plantio até o acondicionamento e uso correto para cada tipo de doença (sempre buscando a orientação de um profissional da área)
Na horta trabalhávamos curva de nível, nutrientes necessários para as plantas desenvolverem, tipo de solo, rocha que originou aquele solo,  recuperação do solo através de métodos naturais, combate a pragas e doenças sem usar veneno.
Quanto a água analisávamos dez parâmetros desde turbidez até oxigênio dissolvido, demanda bioquímica, coliformes fecais, proliferação de cianofíceas devido a contaminação da água,etc. 
Aqui eu descrevi apenas cerca de 10% do projeto.
Abaixo temos algumas imagens do passo-a-passo.

PESQUISA DE CAMPO                       INICIO DA OCUPAÇÃO 1980



 1997 - MESMO ESPAÇO DE 1989
INICIO COLETA SELETIVA


INICIO DA HORTA

PESQUISA COMPACTAÇÃO DO SOLO

 CANTEIROS PREPARADOS E AINDA EM RECUPERAÇÃO

ALUNOS RETIRANDO AS LEGUMINOSAS USADAS NA RECUPERAÇÃO DO SOLO













PRIMEIRA COLHEITA

COLETA SELETIVA (EM UMA OUTRA UNIDADE ESCOLAR)

BARCO COMPRADO COM RECURSOS DA COLETA SELETIVA
BOIAS SENDO INSTALADAS EM PONTOS DE ACOLETA DE ÁGUA

Acredito que pesquisas seguindo esta linha de trabalho poderão trazer valiosos elementos para avançar no conhecimento a respeito de como as escolas poderiam operar no sentido de relacionar os cenários físico, social, político e econômico na busca do entendimento do todo.


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